segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O último voo do flamingo - Mia Couto


Nesta fantástica obra do escritor moçambicano, Mia Couto, temos a chance de embarcar numa viagem extremamente intensa. Trata-se de uma obra que pulsa com uma grande força humanista, os momentos de reestruturação social e política de Moçambique após a guerra de Independência e dos anos de guerrilha.

A obra é uma abordagem sobre os tempos em que estiveram em Moçambique soldados da ONU integrados na missão de manutenção de paz. O romance narra estranhos acontecimentos de uma pequena vila imaginária, Tizangara, que localiza-se ao sul do país, onde, misteriosamente um pênis é encontrado no meio da rua. Sabe-se apenas que mais um soldado das Nações Unidas havia sido deflagrado e aquilo era a única coisa que restara dele.
Ao longo da obra, o mistério adensa-se. Os soldados da paz morreram ou foram mortos?
Este questionamento completa a atmosfera de Tizungara, envolta em veracidade e irrealidade, magia e sedução entre o sagrado e profano, o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, entrelaçado em um presente que resiste ao passado, e a mais completa ausência de futuro.

O Romance é extremamente poético, carregado de lirismo e sarcasmo. Outro elemento essencial é o uso de ditos populares (“O que não pode florir o momento certo, acaba explodindo depois”). Mia Couto "desconserta" a linguagem, e em muitos momentos é impossível não fazer uma comparação entre a sua escrita e a de Guimarães Rosa ("o motor nhenhenhou-se") ou, mesmo, da sintaxe do poeta Manoel de Barros, já na parte final do romance ("as sujidades se definitivam"), e da qual surge à afinidade densa entre o homem e a terra.

Personagens:
Massimo Risi.: Um oficial das Nações Unidas solicitado para investigar o caso.
Estêvão Jonas - o administrador da vila
Temporina- a velha-moça
Ana Deusqueira- a prostituta
Zeca Andorinho- o feiticeiro
Velho Sulplício, o pai do narrador.
Dona Ermelinda (a “administratriz”),
Chupanga (o adjunto do administrador)
Padre Muhando
Eles apresentam suas versões dos fatos, contando sonhos ou lembranças essenciais para a compreensão dos fatos.

Enfim, com toda a sabedoria da velha África, Mia Couto revela-nos, mais uma vez o seu incondicional domínio da escrita, causando-nos um amor profundo por esse belíssimo e atormentado continente, através do romance, O Último Voo do Flamingo.

Um comentário:

Cuidado leitor, ao voltar a página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico!